“Você realmente acha que estava jogando por escolha própria?”
Vivemos tempos em que a linha entre ficção distópica e realidade concreta está cada vez mais turva. Squid Game, com todas as suas críticas sociais, personagens quebrados e jogos mortais, não é apenas uma série sobre desespero. É uma metáfora cruelmente honesta sobre como o mundo moderno nos coloca para competir sob regras invisíveis, muitas vezes sem percebermos que estamos participando.
Mas o sobrevivencialismo, o verdadeiro, aquele que vai além de mochilas e estoques, nos ensina a ver o jogo pelo que ele é.
O Sistema é o Jogo
A primeira lição que Squid Game oferece é brutal: o jogo não começa quando as luzes se acendem no galpão dos jogadores, ele começa muito antes. Começa quando a dívida se acumula, quando a esperança some, quando o sistema te convence de que só há uma saída, e que essa saída passa por renunciar à sua dignidade.
Aqueles que não se preparam se tornam vítimas fáceis de sistemas que oferecem “ajuda” apenas para explorar.
Sobrevivencialismo real é enxergar os sinais antes da convocação.
É não estar à venda quando o desespero chegar.
A Ilusão da Escolha
Muitos jogadores “aceitaram” entrar no jogo. Mas o que a série nos mostra é que a escolha era falsa: todos já estavam dentro, só não sabiam.
Na vida real, isso se manifesta nas rotinas que nos anestesiam, nos ciclos de trabalho e dívida, nas dependências criadas artificialmente. Você pode achar que está no controle, mas tudo foi desenhado para te manter jogando, até que alguém te ofereça uma falsa saída: mais crédito, mais entretenimento, mais controle.
O sobrevivencialismo não é fuga, é romper o script e sair do jogo sem pedir permissão.
O Preço das Alianças Fracas
Traições como as de Sang-woo contra Ali, ou a vingança de Han Mi-nyeo contra Deok-su, mostram que em ambientes de escassez e medo, a confiança se torna moeda rara.
Sobreviver em grupo exige mais do que afinidade. Exige valores compartilhados, temperamento equilibrado, e clareza de propósito.
Alianças mal formadas são piores que a solidão: elas colapsam quando você mais precisa. E vamos falar disso em nosso próximo Workshop de número 4, sobre Táticas de Sobrevivência Conjunta – Como Formar Grupos Confiáveis.
Em tempos de colapso, não é a força que salva, é a solidez dos vínculos.
Inteligência e Moral: Uma Balança Frágil
O mundo de Squid Game é um espelho do nosso: aqueles que vencem sem princípios, na maioria das vezes, se destroem por dentro.
Sang-woo é um exemplo disso: racional, calculista, mas corroído por dentro.
Já Gi-hun, o protagonista, vence sem vencer, porque decide não matar para ganhar.
No final, ele volta. Não para jogar, mas para acabar com o jogo.
Essa é a verdadeira missão do sobrevivente consciente.
Não apenas passar pela tempestade…
Mas ajudar outros a não entrarem nela.
A Última Fase: Recusar Jogar
O que aprendemos com Squid Game, e o que o sobrevivencialismo autêntico ensina, é simples:
Se você espera o colapso para começar a agir, já está atrasado. A sobrevivência começa com percepção, continua com estrutura e termina com propósito. Não basta escapar: é preciso entender o sistema, para nunca mais depender dele.
Conclusão: Fora do Jogo, Dentro da Vida
Squid Game é um alerta, não um espetáculo.
Nos lembra que o verdadeiro campo de batalha é a alma.
E que os sistemas modernos, políticos, econômicos, digitais, muitas vezes querem te convencer de que a única maneira de sobreviver é obedecer às suas regras.
O sobrevivencialista vê além.
Ele não joga.
Ele constrói.
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Eduardo Maschietto é um autor ítalo-brasileiro, especialista em sobrevivência urbana, Direito e Ciências da Computação, com mais de uma década de experiência internacional. Instrutor certificado de armamento e tiro, palestrante e escritor, Eduardo é autor de obras como Declínio Moral e Seja um Patriota e Não um Idiota. Ele se dedica a educar e conscientizar sobre segurança, valores fundamentais e responsabilidade individual, combinando história, filosofia e prática em seus projetos e reflexões.