Na última semana, um gesto aparentemente protocolar reacendeu debates sobre o equilíbrio global.
Desse texto estamos produzindo o relatório do Clube Sentinela, se não faz parte ainda, assine.
Enquanto as delegações dos Estados Unidos e da Rússia se deslocavam para o centro do palco em Anchorage, céus do Alasca foram cortados por um bombardeiro B-2 Spirit, acompanhado por caças F-22 e F-35. Para uns, mera coincidência; para analistas mais atentos, um recado direto de Washington a Moscou: ainda há uma hierarquia no tabuleiro, e ela é clara.
Um Ultimato Implícito
O B-2 não é só um avião. É um símbolo de supremacia militar — invisível ao radar, capaz de lançar ataques nucleares ou convencionais em qualquer lugar do mundo.
O sobrevoo no exato momento da entrada de Putin foi calculado para impressionar. Um lembrete sutil, porém inequívoco: os EUA mantêm a capacidade de impor custos catastróficos se a Rússia insistir em escalar a guerra da Ucrânia.
Em termos convencionais, não há comparação: Washington sustenta 11 porta-aviões nucleares, superioridade tecnológica incomparável e gastos militares quase três vezes maiores. No campo nuclear, o equilíbrio é a velha lógica da destruição mútua assegurada (MAD). Moscou sabe que não pode arriscar um tudo ou nada.
Rússia e China: aliados ou reféns?
Desde a guerra na Ucrânia, a Rússia se aproximou da China como nunca. O comércio bilateral bateu recordes, o gás flui pelos dutos do Power of Siberia, e empresas chinesas suprem componentes cruciais para a indústria militar russa.
Mas essa aliança é tática, não natural. Moscou e Pequim têm histórico de rivalidade, e a China vê a Rússia mais como fornecedora subordinada do que como parceira igual.
O gesto americano no Alasca, portanto, pode ser lido como um teste de fenda: até que ponto a Rússia está disposta a continuar refém da China?
O Flanco Esquecido: América Latina
Enquanto isso, no hemisfério ocidental, cresce um risco silencioso:
- O fentanil, produzido com precursores chineses e refinado no México, já causa devastação social nos EUA.
- O PCC e outras facções controlam rotas atlânticas de cocaína em escala global.
- O Tren de Aragua e gangues transnacionais corroem Estados frágeis como o Equador, criando zonas de quase guerra civil.
Ou seja, enquanto olhamos para Ucrânia e Taiwan, a América Latina se transforma em ameaça estratégica direta, conectando narcotráfico, geopolítica e erosão social.
E a situação na América Latina é a atualização da Doutrina Monroe em forma de guerra híbrida: dissuasão militar, sanções, propaganda e cerco narrativo, mas falaremos sobre isso depois.
O que está em jogo
Olavo de Carvalho já advertia, em suas aulas, que não basta analisar tanques e aviões: é preciso mapear o ambiente histórico-cultural.
Hoje, esse ambiente é marcado pelo declínio europeu, pela dependência russa da China, pela hegemonia tecnológica americana e pela degradação cultural e institucional da América Latina.
É nesse terreno que se joga o futuro: não apenas em bases militares ou tratados, mas no imaginário coletivo, na capacidade de uma civilização de afirmar seus valores diante do caos.
Entre Força e Fragilidade
O Alasca não trouxe acordos imediatos. Mas trouxe símbolos: força americana, hesitação russa, silêncio europeu e sombra chinesa.
Se esse gesto abrir caminho para uma distensão limitada entre Washington e Moscou, será apenas por conveniência mútua, não por aliança.
O que permanece é o alerta: estamos num mundo em que a guerra deixou de ser apenas confronto de exércitos e passou a ser batalha de narrativas, legitimidades e mapas de realidade.
✍️ Conclusão para o leitor:
Não se trata de torcer por este ou aquele lado, mas de compreender que vivemos numa encruzilhada. A supremacia militar dos EUA é clara, mas não resolve sozinha a corrosão cultural, o avanço das drogas e a crise de legitimidade no Ocidente.
E como dizia Olavo, só quem compreende o terreno pode traçar a estratégia. O resto é barulho.
Nota Final – A encruzilhada aberta no Alasca
A partir do encontro no Alasca, o que se revela não é apenas a possibilidade de um acordo pontual entre Rússia, Ucrânia e Estados Unidos, mas um movimento de reconfiguração global.
Putin mostra-se disposto a congelar frentes e consolidar ganhos territoriais; Trump oferece a imagem de mediador que pode transformar um impasse em tratado; Zelensky é empurrado para uma decisão que pode custar-lhe legitimidade interna. A Europa, convidada à mesa, oscila entre o medo da dependência e a necessidade de sobrevivência.
O tabuleiro, contudo, vai além da Ucrânia. O gesto abre caminho para um novo equilíbrio de forças:
a Rússia buscando estabilidade para projetar-se além da guerra, os EUA redesenhando sua liderança após anos de desgaste, e a América Latina aparecendo como flanco vulnerável, onde o narcotráfico e regimes aliados a Moscou e Pequim se tornam ameaça crescente à ordem hemisférica.
Nada está definido. Mas algo ficou claro: a paz proposta não é apenas sobre fronteiras no Leste Europeu, e sim sobre o formato da ordem mundial que emergirá da crise.

Eduardo Maschietto é um autor ítalo-brasileiro, especialista em sobrevivência urbana, Direito e Ciências da Computação, com mais de uma década de experiência internacional. Instrutor certificado de armamento e tiro, palestrante e escritor, Eduardo é autor de obras como Declínio Moral e Seja um Patriota e Não um Idiota. Ele se dedica a educar e conscientizar sobre segurança, valores fundamentais e responsabilidade individual, combinando história, filosofia e prática em seus projetos e reflexões.