“As boas leis nascem das boas armas.”
— Maquiavel, A Arte da Guerra
Enquanto a Constituição se transforma em peça decorativa, e decisões vitais da República são conduzidas por gabinetes fechados ou comissões controladas, cresce a sensação de que o cidadão comum já não é protegido pela lei, mas apenas observado por ela.
E nesse cenário, um florentino do século XVI, tão odiado quanto incompreendido, volta a fazer sentido.
Sim, Maquiavel escreveu A Arte da Guerra, mas não aquela que fala de vencer sem lutar, não aquela sobre honra samurai ou kung fu mental.
A dele fala sobre quando a paz é mantida pela ilusão, e quando o povo perde o direito de se defender.
Maquiavel não era revolucionário. Era realista.
Em sua obra em forma de diálogo, Maquiavel defende um princípio tão incômodo quanto necessário:
A liberdade não é fruto da obediência, mas da vigilância.
Ele não exalta a guerra, mas critica a passividade.
Em A Arte da Guerra, Maquiavel despreza os exércitos mercenários e profissionais de carreira.
Ele chama esses soldados de aluguel de “covardes com uniforme”. E oferece uma alternativa radical:
“Um povo virtuoso deve ser treinado na guerra. É ele quem deve proteger a liberdade.”
O verdadeiro exército da república, diz ele, não veste farda, veste consciência.
Não é o poder do Estado, é a força organizada do povo, descentralizada, disciplinada e moral.
Denuncia os exércitos profissionais sem virtude. E exalta o cidadão que conhece seu dever: proteger sua casa, sua comunidade, sua república.
Soa atual?
Brasil, 2025: Entre PECs e narrativas
Enquanto o país discute a PEC 18/2025, que propõe a centralização das forças policiais sob o Governo Federal, e enquanto avança a PL 4149/2004, que pode impactar profundamente os direitos de CACs e da legítima defesa a partir de 2026, é inevitável lembrar do alerta:
Leis só funcionam onde há cidadãos dispostos a defendê-las com dignidade e coragem.
E não estamos falando de armas.
Estamos falando de consciência ativa, formação moral e capacidade de resistência civil legal e organizada, os maiores medos de qualquer projeto autoritário.
Maquiavel não inspira rebeldia, ensina responsabilidade
Dizer que Maquiavel era imoral é ignorar o contexto.
Ele não aplaudia tiranos, ele tentava evitá-los.
E sabia que, sem povo instruído e vigilante, a política vira ferramenta de dominação, e a justiça vira espetáculo.
Para ele, não existe liberdade garantida por cláusula pétrea.
Liberdade é garantida por um povo que sabe usar a espada, e sabe quando não usá-la.
O que está em jogo não é só o armamento. É a autonomia.
Centralizar as polícias.
Desarmar civis com registro.
Reduzir o pacto federativo a um rascunho irrelevante.
Nada disso acontece por acaso.
A soma dos fatos indica uma direção: controle concentrado, narrativa única, força institucional sem freios.
Por isso, falar de A Arte da Guerra hoje não é fazer apologia à violência, é alertar para a fragilidade da paz construída sobre o medo.
Ainda não é tempo de espadas. Mas é tempo de firmeza.
Esse texto não é um chamado à desordem.
É um lembrete: as grandes quedas morais de uma nação não começam com armas, mas com silêncio.
Se o povo ainda acredita na lei, deve estar disposto a defendê-la.
Não com fúria, mas com estrutura, conhecimento e voz ativa.
Conclusão
Maquiavel não escreveu para justificar golpes. Escreveu para que os povos livres nunca fossem obrigados a aceitá-los calados.
E por isso, talvez, ele continue sendo temido até hoje, especialmente por quem acha que liberdade é concessão estatal, e não responsabilidade popular.
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A paz verdadeira só nasce quando a liberdade é respeitada.
E a liberdade só vive onde existe gente disposta a preservá-la.