Parte 1
Os investimentos da China no Brasil vão além da mera injeção de capital. Observa-se um padrão estratégico que envolve o controle de setores essenciais, como energia, infraestrutura, agronegócio e tecnologia. Além disso, há um volume crescente de produtos chineses de qualidade duvidosa no mercado brasileiro, levantando preocupações sobre a dependência tecnológica e industrial do país. Abaixo, analiso cada setor e suas implicações para o Brasil.
1. Energia: Domínio Chinês em Infraestrutura Crítica
A China investiu fortemente no setor energético brasileiro, adquirindo ativos estratégicos que garantem o fornecimento de eletricidade a milhões de brasileiros.
• State Grid: Controla uma fatia significativa da distribuição de energia no Brasil, incluindo CPFL e a Rio Grande Energia. Com investimentos de R$ 28,4 bilhões, a empresa chinesa está se tornando a maior operadora privada de energia elétrica no Brasil. O risco é evidente: caso haja conflitos políticos entre Brasil e China, Pequim teria influência sobre a infraestrutura elétrica do país.
• China Three Gorges (CTG): O controle das usinas hidrelétricas de Jupiá e Ilha Solteira coloca uma parte substancial da produção energética nas mãos da China. Isso significa que o Brasil está terceirizando sua segurança energética para um país estrangeiro, um risco estratégico em longo prazo.
Conclusão: O Brasil está se tornando energeticamente dependente da China, um risco semelhante ao que a Europa enfrentou ao depender do gás russo.
2. Infraestrutura: Caminho Aberto para o Controle Logístico
Empresas chinesas estão adquirindo ativos logísticos estratégicos no Brasil:
• CCCC e CRCC: Participação em projetos como a ponte Salvador-Itaparica e potenciais ferrovias. O interesse da China na malha ferroviária brasileira sugere um movimento para garantir corredores logísticos para escoamento de produtos chineses e commodities brasileiras.
• Portos e Rodovias: Embora ainda não dominem completamente esse setor, empresas chinesas têm participação crescente, o que pode facilitar sua capacidade de influência econômica sobre o comércio exterior brasileiro.
Conclusão: A China está se posicionando como um ator essencial na infraestrutura brasileira, garantindo controle sobre o fluxo de mercadorias e, potencialmente, sobre políticas econômicas do Brasil.
3. Tecnologia: A Dependência do 5G e a BYD
O setor tecnológico é um dos mais críticos, pois define o grau de independência digital de um país.
• Huawei e a rede 5G: A tecnologia 5G chinesa pode ser um vetor de espionagem e vigilância, como já foi apontado por governos dos EUA e da Europa. O Brasil depender da Huawei significa abrir mão da soberania digital.
• BYD e a polêmica da qualidade: A empresa chinesa recebeu incentivos do governo brasileiro para substituir a Ford na Bahia, com promessa de criar empregos e trazer inovação ao setor automotivo. No entanto, especialistas apontam que a qualidade dos carros da BYD é inferior à de montadoras tradicionais. Testes e análises revelam que os veículos têm problemas de acabamento, menor resistência a impactos e dificuldades na assistência técnica. Além disso, denúncias de trabalho análogo à escravidão na fábrica da BYD na Bahia levantam questões sobre a ética da operação chinesa no Brasil.
Conclusão: A China está se consolidando como líder em tecnologia no Brasil, mas há preocupações com qualidade e segurança. O Brasil pode estar se tornando um “mercado teste” para produtos chineses antes de sua expansão global.
4. Agronegócio: Dependência do Mercado Chinês
O agronegócio brasileiro tem forte dependência da China, especialmente na exportação de soja e carne. No entanto:
• Empresas chinesas como Shanghai Pengxin e China National Agricultural Development Group estão comprando terras e empresas do setor, verticalizando a cadeia produtiva.
• A longo prazo, isso pode significar que o Brasil não apenas exportará para a China, mas também dependerá de empresas chinesas para insumos e comercialização.
Conclusão: Se o Brasil não limitar a compra de terras por estrangeiros, pode acabar sendo apenas um fornecedor de matéria-prima para a China, sem controle sobre os preços e a distribuição.
5. Dumping e Desova de Produtos Chineses de Baixa Qualidade
Um problema recorrente na relação Brasil-China é o dumping — a prática de vender produtos a preços abaixo do custo para eliminar a concorrência local. O Brasil tem sido alvo de:
• Eletrônicos e eletrodomésticos baratos: Empresas brasileiras não conseguem competir com produtos chineses que chegam a preços extremamente baixos, muitas vezes com baixa durabilidade.
• Veículos elétricos da BYD: Apesar de parecerem inovadores, esses carros enfrentam críticas sobre qualidade e durabilidade. Há risco de que o Brasil se torne um mercado de descarte de veículos elétricos baratos.
• Insumos agrícolas: O Brasil importa fertilizantes e defensivos chineses, mas a qualidade e os impactos ambientais são questionáveis.
Conclusão: A China está usando o Brasil como mercado para produtos de segunda linha, minando a indústria nacional e criando dependência tecnológica.
6. Riscos de Segurança e Influência Política
• Influência nas decisões de política externa: O Brasil, ao se tornar dependente da China em setores estratégicos, pode ser pressionado a adotar posturas alinhadas a Pequim em foros internacionais.
• Monitoramento e vigilância: O uso de tecnologias chinesas pode permitir espionagem e monitoramento de informações sensíveis.
Conclusão Geral: O Brasil Rumo à Dependência Chinesa?
A estratégia chinesa de investimento no Brasil segue um padrão de dominação econômica e influência estratégica. Ao adquirir setores-chave, como energia, infraestrutura, tecnologia e agronegócio, a China está criando uma posição de dependência para o Brasil, que pode se tornar vulnerável em momentos de crise política ou econômica.
O que pode ser feito?
• Regulação de compras estratégicas: O governo precisa estabelecer limites para aquisições estrangeiras em setores críticos.
• Fortalecimento da indústria nacional: Estimular a inovação e a competitividade para reduzir a dependência de produtos chineses.
• Diversificação de parceiros comerciais: O Brasil precisa reduzir a dependência do mercado chinês e buscar alternativas na Europa, América do Norte e outros países asiáticos.
A China vê o Brasil como um parceiro comercial vital, mas o Brasil precisa equilibrar essa relação para evitar se tornar apenas uma colônia econômica moderna.